segunda-feira, 17 de junho de 2024

Vamos falar de uma tragédia ocorrida no século XIX no sertão de Pernambuco denominada de Pedra do Reino.




A Pedra do Reino ou Pedra Bonita é a denominação dada ao conjunto de duas pedras paralelas, em formato de torres, com 30 a 33 metros cada uma, localizadas na Serra do Catolé, em São José do Belmonte, Pernambuco. Originalmente, eram denominadas Pedra Bonita, devido à coloração dourada presente nas rochas, no entanto, ficou conhecida como Pedra do Reino após ser palco de um movimento messiânico, inspirado no sebastianismo português, que acreditava que nas pedras estava encantado o reino de Dom Sebastião, que iria desencantar após serem lavadas com sangue, resultando em um massacre com sacríficos em prol da volta do rei português.

Dom Sebastião foi transformado em lenda em Portugal depois de desaparecer na África na Batalha de Alcácer-Quibir. Dom Sebastião não tinha filhos e seu reino passou : sob domínio espanhol, os portugueses sonhavam com a volta do rei que restituiria a nação tomada à força.

Em 1580, instalou-se uma crise sucessória em Portugal. Em 1578, o rei Dom Sebastião I morrera na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos contra os mouros, no norte da África, não deixando herdeiros. Assumira o trono português, como regente, o cardeal Dom Henrique, seu tio-avô, que morreu em 1580. Extinguia-se com ele a dinastia de Aviz.

Vários candidatos, por ligações de parentesco, apresentaram-se para a sucessão. Felipe II, rei da Espanha, por ser neto de Dom Manuel, o Venturoso, e tio de D. Sebastião, julgava-se o candidato com mais direito ao trono português. Assim, as forças espanholas invadiram Portugal, em 1580, e Felipe II tomou a Coroa portuguesa, unindo Portugal e Espanha. Este fato ficou conhecido como União Ibérica, que se estendeu até 1640.

Portugal tinha sido uma potência entre os anos de 1500 a 1570, principalmente devido ao descobrimento das caravelas, o que permitiu a expansão do país lusitano para várias partes do mundo criando colônias.

A volta de D. Sebastião, segundo a lenda, restauraria esse período de glória.

Passados três séculos essa história chegou ao Brasil, no sertão de Pernambuco.

Pedra do reino



Entre os anos de 1836 e 1838 funcionou no local um arraial de fanáticos que acreditavam na volta do rei Dom Sebastião, mais precisamente que naquelas pedras estava encantado o seu reino. A seita era comandada por um homem chamado João Antônio, que depois da intervenção do padre Francisco Correia abandonou o lugar e deixou como sucessor o seu cunhado João Ferreira.

A seita tinha o formato de um reino e todos tratavam João Ferreira como rei. Tinham costumes e rituais próprios, eram poligâmicos e viviam sem muita higiene ou produção de comida.







Em 16 de maio 1838, João Ferreira, após embebedar os sectários com o que chamavam de "vinho santo", os convenceu de que o reino de Dom Sebastião só desencantaria após ser lavado com sangue de sacrifícios, iniciando assim um massacre que durou 3 dias e resultou na morte de mais de 80 pessoas, vitimando inclusive o líder João Ferreira, após seu cunhado Pedro Antônio, irmão de João Antônio, ter afirmado que Dom Sebastião havia lhe aparecido em sonho e dito que para o desencantamento do reino faltava apenas o sangue do rei João Ferreira. Na verdade, Pedro Antônio queria se vingar pela morte da sua irmã, mulher de João Ferreira, que havia sido sacrificada. 

O massacre só terminou em 18 de maio, após o major Manoel Pereira da Silva ter intervindo e atacado o reino com sua tropa. No ataque, morreram fanáticos e soldados, inclusive 2 irmãos do major. João Antônio, o primeiro líder da seita, foi capturado em Minas Gerais e morto no caminho a Pernambuco, e sua esposa fugiu para Santa Catarina, tendo recebido um indulto do então presidente da província, o Conde da Boa Vista.

Dois meses após o massacre o padre Francisco Correia foi até o local e sepultou os corpos das vitimas. Na ocasião, fez um desenho do cenário que encontrou, para servir de alerta à população, que se encontra preservado no acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco.

Esse fato de fanatismo desenfreado assemelha-se a outro parecido ocorrido na Guiana Francesa em 1978, onde fanáticos liderados por Jim Jones foram levados ao suicídio em massa, sendo que aqueles que tentaram escapar foram perseguido e mortos.

O escritor Ariano Suassuna, escreveu essa história num livro.

Suassuna iniciou o Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, seu nome completo, em 1958, para concluí-lo somente uma década depois, quando o autor percebeu o que o levou a escrever o romance: a morte do pai, quando tinha apenas três anos de idade – tragédia pessoal presente na literatura de Suassuna, e a redenção do seu "rei" – uma reação contra o conceito vigente na época, segundo o qual as forças rurais eram o obscurantismo (o mal) e o urbano o progresso (o bem).




O livro foi adaptado para TV em 2007, em homenagem aos 80 anos de Ariano Suassuna. Exibida na Rede Globo em 5 capítulos, a minissérie A Pedra do Reino.


Fonte:

wikipedia.org
google.com
multirio.rg.gov.br
guiadoestudante.abril.com.br

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