Essa é a dedicatória do autor no clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi um outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: a diferença radical entre este livro e o Pentateuco."
Memórias Póstumas de Braz Cubas p.15
A obra tem início com a declaração da morte de Brás Cubas, cujo narrador e protagonista relata suas memórias após ter sido vítima de pneumonia.
Pertencente a uma família abastada do século XIX, Brás Cubas narra primeiramente sua morte e enterro onde apareceram onze amigos.
Por conseguinte, ele relata diversos momentos de sua vida, desde eventos da sua infância, adolescência e fase adulta.
Ainda no início da obra ele revela suas expectativas com o “emplastro”, um medicamento que contém grande potencial de cura.
Durante sua infância, Brás Cubas comenta sua relação com seu escravo, o negrinho Prudêncio. Como um menino aristocrata, pertencente à classe alta, Brás Cubas esboça a relação que tinha com o garoto desde suas brincadeiras e caprichos.
Na juventude do protagonista, as benesses ficam por conta dos gastos com uma cortesã, ou prostituta de luxo, chamada Marcela, a quem Brás dedica a célebre frase: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”. Essa é uma das marcas do estilo machadiano, a maneira como o autor trabalha as figuras de linguagem. Marcela é prostituta de luxo, mas na obra não há, em nenhum momento, a caracterização nesses termos. Machado utiliza a ironia e o eufemismo para que o leitor capte o significado. Brás Cubas não diz, por exemplo, que Marcela só estava interessada nos caros presentes que ele lhe dava.
Ele ressalta que foi acompanhado ao cemitério por onze amigos.
" Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia.".
Neste trecho, Braz Cubas tenta justifica o número diminuto de pessoas no seu enterro.
Machado nessa época, lastimava-se de suas doenças, e do abandono de muitos amigos e familiares.
Em certo momento da narrativa, Brás Cubas tem seu segundo e mais duradouro amor. Enamora-se de Virgília, parente de um ministro da corte, aconselhado pelo pai, que via no casamento com ela um futuro político. No entanto, ela acaba se casando com Lobo Neves, que arrebata do protagonista não apenas a noiva como também a candidatura a deputado que o pai preparava.
A obra foi publicada em 1881 e inaugura o Movimento do realismo no Brasil.
O livro termina com Brás Cubas narrando o final melancólico de sua vida:
CAPÍTULO CLX / DAS NEGATIVAS
Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos
narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção
do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia
que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os
homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e
direta inspiração do Céu. O caso determinou o contrário; e aí vos
ficais eternamente hipocondríacos.
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade
do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o
casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa
fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semi demência do Quincas
Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará
que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite
com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do
mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira
negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti
a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
FIM
Fontes:
guiadoestudante.abril.com.br
brasilescola.uol.com.br
Assis, Machado - memórias póstumas de Brás Cubas - Ed. Abril 1978
google.com
todamateria.com.br
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