sexta-feira, 7 de julho de 2023

 




Uma homenagem ao grande dramaturgo brasileiro, Zé Celso, falecido ontem em São Paulo, republicamos o texto sobre Rei da Vela.





De caráter rebelde e anarquista, a peça escrita por Oswald de Andrade e dirigida por Zé Celso tece críticas à sociedade. Na trama, um personagem chamado Abelardo 1º tenta enriquecer com uma fábrica de velas quando as empresas de energia elétrica fecham, já que a população não tem dinheiro para pagar as contas.


"O Rei da Vela" trata ainda dos conflitos que surgem a partir da concentração de poder. Serviu, naquela época, como um grito contra o autoritarismo e a censura da ditadura militar, que havia tido início três anos antes.

O livro de "O Rei da Vela" foi publicado em 1937, às vésperas de Getúlio Vargas instaurar uma ditadura no Brasil, período que ficou conhecido como Estado Novo.

“A minha classe precisa de lacaios. A burguesia exige definições!” 



“Acenda todas as velas! Economia em regressão. As grandes empresas estão voltando à tração animal! Estamos ficando um país modesto. De carroça e vela! Também já hipotecamos tudo ao estrangeiro, até a paisagem! Era o país mais lindo do mundo. Não tem agora uma nuvem desonerada… Mas não irá ao suicídio… Isso é para mim.”


Manter vigilância rigorosa nas fábricas. Evitar a propaganda comunista. Denunciar e perseguir os agitadores. Prender. Esse negócio de escrever livros de sociologia com anjos é contraproducente. Ninguém mais crê. Fica ridículo para nós, industriais avançados. Diante dos americanos e dos ingleses.” 


Esses trechos foram extraídos da peça "O Rei da Vela" de Oswald de Andrade, escrita em 1933 e publicada quatro anos mais tarde em 1937, porém só foi encenada pelo Grupo Oficina dirigida por José Celso Martinez em 1967.


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                                 José Celso Martinez



A montagem  tece uma crítica contundente à elite brasileira. Ela se dá por meio de personagens decadentes, inescrupulosos, falidos, verdadeiros representantes da mescla da tradição, da família e da propriedade. Em tom farsesco, mostra as falcatruas do personagem central, o agiota Abelardo I, fabricante de velas e credor que mantém seus clientes endividados em jaulas, açoitados por Abelardo II, seu sócio.

A peça foi reencenada em 2017, ao atravessar o espaço-tempo desse intervalo, a remontagem de O Rei da Vela discute ainda o anacronismo do país, sua subserviência ao capital estrangeiro, a manutenção de estruturas arcaicas o convívio entre oligarcas, fascistas e capitalistas globais. O espetáculo celebra também os 80 anos do diretor José Celso Martinez Correia e do ator Renato Borghi, que retornam ao elenco, assim como o cenógrafo Hélio Eichbauer, criador do cenário original.

 O rei da vela - Renato Borghi e Dirce Migliaccio


                         José Celso e Renato Borghi

Oswald de Andrade escreveu a peça no auge da crise financeira mundial com a queda da Bolsa de N.York em 1929, e baseado na sua própria situação financeira claudicante naquela época.
                                    Oswald de Andrade


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O rei da vela

Suas personagens, membros da elite burguesa e rural, são retratadas como ridículas e decadentes, envolvidas em falcatruas, exploração, falta de moralidade e sexualidade conturbada.
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A peça trata de assuntos tidos como proibidos na época como homossexualidade.

No segundo ato, por exemplo: 
O segundo ato tem como cenário uma ilha tropical, presente de Abelardo I à noiva. Instala-se ali um clima de grande liberdade sexual: Heloísa troca intimidades com Mr. Jones, americano com quem seu noivo mantém alguns negócios e que desperta interesse em Totó Fruta-do-Conde, irmão homossexual de Heloísa. Abelardo I vive uma noite de amor com a sogra, Dona Cesarina, e acerta outro encontro sexual com a tia da noiva, Dona Poloca, cuja virgindade sexagenária é proclamada a todo momento. Há ainda a presença de João dos Divãs, na verdade Joana, a irmã lésbica de Heloísa, e de seu primo Perdigoto, que arranca um empréstimo de Abelardo I, destinado a montar uma milícia fascista para combater os camponeses que insistem em invadir sua propriedade.
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Como vemos, os temas como a hipocrisia burguesa, o fascismo e o uso da força contra os mais humildes, além da ganância e da falta de escrúpulos de uma classe dominante elitista e reacionária, são temas atuais até os dias de hoje.

Fontes:

wikipedia.org
google.com.br
educacao.globo.com
culturadoria.com.br
folha.uol.com.br

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