sexta-feira, 7 de março de 2025

 Pagão


No cristianismo, pagão é aquele que não foi batizado. Noutras religiões, pagão é aquele que não acredita em deuses.


Oferenda à deusa Vesta



A palavra "pagão" provém do latim paganus, cujo significado é o de uma pessoa que viveu numa aldeia, num dado país, um rústico. O uso mais comum da palavra no latim clássico era utilizado para designar um civil, alguém que não era um soldado. Em torno do século IV, o termo paganus começou a ser utilizado entre os cristãos no Império Romano, para se referir a uma pessoa que não era um cristão e que ainda acreditava nos antigos deuses romanos.




É importante frisar que os pagãos não eram um povo à parte. Eles eram cidadãos romanos que viviam na zona rural. Por isso, tinham uma relação mais forte com a natureza, e prestavam-lhe homenagem assim como prestavam adoração aos diversos deuses romanos.

Desta maneira, cultuavam as forças da natureza como o vento, sol, água, fogo e tudo o que fosse necessário para garantir a sobrevivência diária como o êxito das colheitas e a fertilidade dos animais.






Dentre algumas características desta religião podemos citar:

A natureza é parte da essência divina;

tudo o que existe na Terra é uma partícula do divino;

os ciclos da natureza são respeitados e celebrados com festas;

alguns praticam o animismo ou seja: as forças da natureza são personificadas e adoradas como deuses.

O próprio cristianismo ainda mantém algumas festas de origens pagã.  Como por exemplo a comemoração do Natal, o feriado de Carnaval e a Páscoa.

Vamos ver o exemplo da principal festa cristã, o Natal. Seu significado é a renovação o nascimento de um Cristo, de um salvador. Diversas festas pagãs eram realizadas nessa mesma época.



Saturnália
Festa romana que homenageava Saturno, o deus do tempo, da agricultura e do sobrenatural. Era celebrada entre 17 e 25 de dezembro.

Dies Natalis Solis Invicti
Festa romana que celebrava o Sol Invicto, um deus romano. Era realizada no dia 25 de dezembro.

Yule
Festa pagã dos povos germânicos, como os vikings, que homenageavam o solstício de inverno e Odin, o deus supremo da religião nórdica.


Fontes:

wikipedia.org
todamateria.com.br
wikipedia.org
google.com
educador.brasilescola.com.br


quinta-feira, 6 de março de 2025

 Anacoluto



Anacoluto é uma figura de linguagem que altera a sequência lógica da frase, e isola um dos elementos descaracterizando sua função sintática.




"Uma onça pintada
E seu tiro certeiro
Deixou os meus nervos
De aço no chão”

(Alceu Valença)




No exemplo acima, extraído da canção “Como dois animais”, de Alceu Valença, a expressão “Uma onça pintada” fica desconectada do restante do enunciado, sendo, porém, o tópico dele: na construção “o seu tiro certeiro deixou os meus nervos de aço no chão”, o tiro certeiro é da onça-pintada, que foi substituída no enunciado pelo pronome “seu”."

Exemplo 2 

Esse seu jeito, sua forma de falar  me incomoda!

Esse seu jeito - sem função sintática
sua forma de falar - sujeito
me - objeto direto
incomoda - verbo transitivo direto.



Outros exemplos:




“Eu, porque fui demitido, fico o dia todo em casa”.

“Meu pai, as leituras deixavam-no acordado a noite toda”.

“Adolescentes, como são difíceis de controlar”.

“O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu”. (Rubem Braga).



Fontes:

todamateria.com.br
brasilescola.uol.com.br
portugues.com.br
significados.com.br

quarta-feira, 5 de março de 2025

  Quarta-feira de cinzas.


Quarta-feira de cinzas é o primeiro dia da quaresma, e as cinzas utilizadas nas missas católicas de cinzas são os ramos queimados do último domingo de ramos, misturada com água benta, que é passada com sinal da cruz na testa dos devotos, para lembrar-lhes que vieram do pó e para o pó retornarão.

Depois do carnaval (carne vale) vem o período de abstinência, ou depois do pecado o arrependimento, isso é claro se você for cristão.




Serve também para o devoto fazer uma reflexão sobre sua vida, seus valores, e reafirmar seus votos com a fé cristã.

Na verdade, há muito tempo, que a quarta-feira de cinzas não é mais resguardada como era antes.

Os bailes de carnaval no país inteiro terminavam meia-noite da terça-feira gorda, e depois por quarenta dias (quaresma), nas rádios só eram tocadas músicas sacras, e muitos devotos faziam jejum de carne na quarta-feira de cinzas e em todas as sextas-feiras da quaresma. Quando eu era criança, durante toda a quaresma só se ouviam músicas instrumentais nas rádios.

Os tempos agora são outros, não quer dizer que são mais certos ou errados, só que o tempo passas e os costumes com ele.




Manuel Bandeira escreveu um poema de quarta-feira de cinzas:


Poema de uma quarta-feira de cinzas




Entre a turba grosseira e fútil
Um pierrot doloroso passa.
Veste-o uma túnica inconsútil
feita de sonho e de desgraça...


O seu delírio manso agrupa
atrás dele os maus e os basbaques.
Este o indigita, este outro apupa...
indiferente a tais ataques,


Nublaba a vista em pranto inútil,
Dolorosamente ele passa.
veste-o uma túnica inconsútil,
Feita de sonho e de desgraça...


Manuel Bandeira
(do livro Carnaval, 1919)



Marcha da quarta-feira de cinzas
compositores:
Vinícius de Moraes e Carlos Lyra


Fontes:

wikipedia.org.
youtube.com.br
significados.com.br/quaresma
google.com

terça-feira, 4 de março de 2025

 A Montanha Mágica - Thomas Mann





Thomas Mann iniciou a escrita de "A montanha mágica" em 1912, o mesmo ano em que sua mulher Katharina Mann (Katia) foi internada num sanatório de Davos na Suíça, para se curar de uma tuberculose. O livro teria sido inspirado nesse episódio.

O autor, que escreveu também Dr. Fausto e Morte em Veneza, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1929.



A obra trata da história de um jovem estudante de engenharia naval, alemão de Hamburgo, chamado Hans Castorp. Ele visita o primo Joachim Ziemssen num sanatório destinado ao tratamento de doenças respiratórias localizado em Davos, nos Alpes suíços, pouco antes do começo da Primeira Guerra Mundial. Apesar de ser encaminhado ao sanatório apenas para uma visita e para tratar uma anemia, Hans Castorp vai aos poucos mostrando sinais de que tem tuberculose pulmonar e acaba estendendo sua visita ao sanatório por meses e anos, pois sua saída é sempre adiada por causa da doença.


Alpes suíços



Nesse período, Castorp, pouco a pouco, afasta-se da vida "na planície" e conquista o que chama de liberdade da vida normal. Desliga-se do tempo, da carreira e da família e é atraído pela doença, pela introspecção e pela morte. Ao mesmo tempo, amadurece e trava contato mais profundo com a política, a arte, a cultura, a religião, a filosofia, a fragilidade humana (incluindo a morte e o suicídio), o caráter subjetivo do tempo (um dos temas mais importantes da obra) e o amor.

O sanatório forma um microcosmo europeu. As numerosas personagens do livro, muitas com descrições e reflexões detalhadas, são representações de tendências e pensamentos que predominavam na Europa do pré-grande-guerra, conhecido como o período dos anos loucos. Em particular as personagens Lodovico Settembrini (humanista e enciclopedista) e Leo Naphta (um jesuíta totalitário).

Também se destacam o hedonista Mynheer Peeperkorn e Madame Clawdia Chauchat, por quem Castorp desenvolve interesse romântico e sutilmente sensual, cujo climax está genialmente descrito por Mann em páginas verdadeiramente universais.




A subjetividade da passagem do tempo abordada por Mann reflete-se na estrutura do livro. A narrativa é ordenada cronologicamente, mas acelera ao longo do romance. Desse modo, os primeiros cinco capítulos relatam apenas o primeiro dos anos de Castorp no sanatório, em grande detalhe. Os restantes seis anos, marcados pela monotonia e pela rotina, são descritos nos últimos dois capítulos. Essa assimetria corresponde à própria percepção distorcida de Castorp quanto à passagem do tempo.

No final da narrativa, inicia-se a Grande Guerra, Castorp une-se às fileiras do exército, e sua morte iminente no campo de batalha é sugerida. Apesar do processo de amadurecimento da personagem ao longo do livro, não está claro, na parte final, se ele formou uma sólida individualidade, e sua última aparição se dá como um soldado anônimo, entre milhares, em um campo de batalha qualquer da Primeira Guerra Mundial.


Fontes:

wikipedia.org
google.com
companhiadasletras.com.br

segunda-feira, 3 de março de 2025

 O nome da rosa de Humberto Eco.


Humberto Eco



O nome da rosa é um livro de 1980 escrito pelo escritor italiano Umberto Eco.

"O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem".

Willian Shakespeare





Um dos trechos mais importantes da obra:



Umas das grandes curiosidades acerca da obra está relacionada com a escolha do título. O nome da rosa parece ter sido escolhido a fim de deixar que o próprio leitor desse uma interpretação.

Além disso, a expressão "o nome da rosa" era na época medieval uma maneira simbólica de expressar o enorme poder das palavras.

Sendo assim, a biblioteca e as obras proibidas pela Igreja teria total relação com o nome dessa grande obra da literatura.

A narrativa se passa na Itália no período medieval. O cenário é um mosteiro beneditino, onde um frei é chamado para fazer parte de um concílio do clero que investiga crimes de heresia. Entretanto, assassinatos misteriosos começam a ocorrer.

O enredo d'O Nome da Rosa gira em torno das investigações de uma série de crimes misteriosos, cometidos dentro de uma abadia medieval.


'''- Muito me agradou saber - acrescentou o Abade - que em numerosos casos vós haveis decidido pela inocência do acusado. Creio, e mais do que nunca nestes dias tristíssimos, na presença constante do maligno nas coisas humanas - e olhou em torno, imperceptivelmente, como se o inimigo vagueasse entre aquelas paredes -, mas creio também que muitas vezes o maligno opera por causas segundas. E sei que pode impelir as suas vítimas a fazer o mal de tal modo que a culpa recaia sobre um justo, gozando com o fato que o justo seja queimado em lugar do seu súcubo. Frequentemente, os inquisidores, para darem prova de diligência, arrancam a todo o custo uma confissão ao acusado, pensando que só é bom inquisidor aquele que conclui o processo encontrando um bode-expiatório... - Até um inquisidor pode ser movido pelo diabo - disse Guilherme. - É possível - admitiu o Abade com muita cautela -, porque os desígnios do Altíssimo são imperscrutáveis, mas não serei eu a lançar a sombra da suspeita sobre homens tão beneméritos. É mesmo de vós, como um deles, que eu hoje tenho necessidade."
(p.19)





Quando o monge franciscano Guilherme de Baskerville chega a um monastério beneditino no norte da Itália, em 1327, ele não imaginava o que iria viver nos próximos dias.

Guilherme leva consigo o noviço Adso de Melk, um jovem vindo de uma família da elite que está sob sua tutoria.O narrador da história é o velho Adso, que relembra os acontecimentos em sua juventude. Aqui já é possível perceber o contraste entre a juventude e a velhice, ao colocar a mesma personagem em dois momentos da vida diferentes.

Os dois chegam à cavalo ao enorme mosteiro e são levados a um aposento em que da janela é possível ver um pequeno cemitério. Guilherme observa um urubu rondando uma cova recém coberta e fica sabendo que um jovem pároco havia falecido há pouco tempo em circunstâncias duvidosas.
A investigação

A partir de então, mestre e aprendiz iniciam uma investigação sobre o caso, que é visto como obra do demônio pelos demais religiosos.

Com o passar do tempo, outras mortes ocorrem e Guilherme e Adso buscam relacioná-las e entender o mistério que ronda a instituição religiosa.

Assim, eles descobrem que a existência de uma biblioteca secreta estava interligada aos acontecimentos mórbidos do lugar. Tal biblioteca guardava livros e escrituras considerados perigosos para a Igreja Católica.




Isso porque tais registros continham ensinamentos e reflexões da antiguidade clássica que colocavam em cheque os dogmas católicos e a fé cristã.

Uma das crenças difundidas pelos poderosos do alto clero era a de que o riso, a diversão e a comédia desvirtuavam a sociedade, tirando o foco da espiritualidade e o temor à Deus. Assim, não era recomendado que os religiosos rissem.

Um dos livros proibidos que estava na biblioteca era uma suposta obra do pensador grego Aristóteles que versava justamente sobre o riso.






O abade cego pergunta ao investigador William de Baskerville: 

"Que almejam verdadeiramente?"

Baskerville responde: " Eu quero o livro grego, aquele que, segundo vocês, nunca foi escrito. Um livro que só trata de comédia, que odeiam tanto quanto risos.

Provavelmente é o único exemplar conservado de um livro de poesia de Aristóteles. Existem muitos livros que tratam de comédia. Por que esse livro é precisamente tão perigoso?"

O abade responde: " Porque é de Aristóteles e vai fazer rir

Baskerville replica: " O que há de perturbador no fato de os homens poderem rir?"

O abade: "O riso mata o medo, e SEM MEDO NÃO PODE HAVER FÉ. Aquele que não teme o demônio não precisa mais de Deus".









Guilherme e Adso conseguem, através do pensamento racional e investigativo, chegar até a biblioteca, um local que continha um enorme número de obras. A construção de tal lugar era bastante complexa, o que a transformava em um verdadeiro labirinto.

Os abusos da Igreja e a paixão de Adso.

A trama conta também com cenas que denunciam os abusos da Igreja cometidos contra os camponeses. Eles costumavam fazer doações de comida ao povo pobre em troca de exploração sexual.

Em dado momento, Adso depara-se com uma jovem mulher (a única que aparece no enredo), e os dois envolvem-se sexualmente, em uma cena cheia de erotismo e culpa. Adso passa a desenvolver sentimentos amorosos pela camponesa.



'' Só o bibliotecário recebeu o seu segredo do bibliotecário que o precedeu, e comunica-o, ainda em vida, ao bibliotecário ajudante, de modo que a morte não o surpreenda privando a comunidade daquele saber. E os lábios de ambos estão selados pelo segredo. Só o bibliotecário, além de saber, tem o direito de se mover no labirinto dos livros, só ele sabe onde encontrá-los e onde repô-los, só ele é responsável pela sua conservação. Os outros monges trabalham no scriptorium e podem conhecer o elenco dos volumes que a biblioteca encerra. Mas um elenco de títulos freqüentemente diz muito pouco, só o bibliotecário sabe, pela colocação do volume, pelo grau da sua inacessibilidade, que tipo de segredos, de verdades ou de mentiras o volume encerra. Só ele decide como, quando e se o fornece ao monge que faz a sua requisição, por vezes depois de me ter consultado. Porque nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais por um espírito piedoso, e os monges, enfim, estão no scriptorium para levar a cabo uma obra precisa, para a qual devem ler certos volumes e não outros, e não para seguir qualquer insensata curiosidade que os colha, quer por debilidade da mente, quer por soberba, quer por sugestão diabólica. - Portanto, também há na biblioteca livros que contêm mentiras..."
(p.27)



A hegemonia da Igreja Católica, cujo apogeu se deu durante o período medieval, estaria em risco se fossem reveladas as contradições e a hipocrisia existentes no mosteiro. Adso e seu mestre descobrem os autores dos assassinatos que impediam o acesso à biblioteca dos monges pois os livros continham informações que os incriminavam. As pessoas, ao manusearem um livro que esclarecia os acontecimentos, eram envenenadas por uma substância mortífera.

O ponto forte para a solução do mistério foram as manchas pretas na língua e no dedo dos monges causado pelo veneno posto na obra.




Eis que chega ao monastério um antigo desafeto de Guilherme, Bernardo Gui, um poderoso frei que é um dos braços da Santa Inquisição. Ele vai até lá para apurar denúncias de atos hereges e bruxarias.

Bernardo se coloca então como um obstáculo para que Baskerville e Adso concluam suas investigações, que já estão causando problemas entre a alta cúpula.

Alguns acontecimentos ocorrem envolvendo dois frades e a camponesa por quem Adso é apaixonado. Os três são indiciados como hereges, sendo que a moça é vista como bruxa.

Um tribunal é realizado com a intenção de que eles confessem os assassinatos e sejam posteriormente queimados na fogueira.

No momento em que os réus são colocados na fogueira e a maioria das pessoas acompanhava o desenrolar dos fatos, Guilherme e Adso vão até a biblioteca para resgatar algumas obras.

O desenrolar dos fatos

Lá eles se deparam com Jorge de Burgos, um dos párocos mais idosos do mosteiro, que mesmo cego e decrépito era o verdadeiro "guardião" da biblioteca. Guilherme então se dá conta de que todas as mortes tinham como responsável o velho Jorge. Em um momento de confusão, inicia-se um grande incêndio na biblioteca, onde Jorge de Burgos acaba morrendo e Adso e seu mestre saem com vida carregando alguns livros. Por conta do incêndio no mosteiro, as atenções são desviadas do julgamento e das fogueiras, assim, a camponesa consegue escapar.


Incêndio na biblioteca





Adso e Guilherme saem do local e seguem rumos distintos na vida, nunca mais encontrando-se. Resta a Adso os óculos de seu mestre e a lembrança da paixão pela camponesa, que ele nunca soube o nome.

O livro foi levado ao cinema em 1986 com direção de Jean-Jacques Annaud, estrelando : Sean Connery, Christian Slater, Elva Baskin.


O nome da rosa - trailer



'''Não me resta senão calar-me. O quam salubre, quam iucundum et suave est sedere in solitudine et tacere et loqui cum Deo! Dentro em pouco reunir-me-ei ao meu principio, e já não creio que seja o Deus da glória de que me tinham falado os abades da minha ordem, ou de alegria, como julgavam os menoritas de então, talvez nem sequer de piedade. Gott ist ein lautes Nichts, ihn rührt kein Nun noch Hier... Em breve me entranharei neste deserto amplíssimo, perfeitamente plano e incomensurável, em que o coração verdadeiramente pio sucumbe bem-aventurado. Afundar-me-ei na treva divina, num silêncio mudo e numa união inefável, e neste afundar-se se perderá toda a igualdade e toda a desigualdade, e nesse abismo o meu espírito se perderá a si mesmo, e não conhecerá nem o igual nem o desigual, nem mais nada: e serão esquecidas todas as diferenças, estarei no fundamento simples, no deserto silencioso onde jamais se vê diversidade, no íntimo onde ninguém se encontra no seu próprio lugar. Cairei na divindade silenciosa e desabitada onde não há obra nem imagem."
(p.405)






Fontes:

wikipedia.org
pensador.com
revistaprosaversoearte.com
knook.com.br
meuartigo.brasilescola.com.br
culturagenial.com
adorocinema.com
youtube.com
google.com

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

 Morte e vida Severina - João Cabral de melo Neto



Capa da primeira edição de Morte e Vida Severina


O retirante explica ao leitor quem é e a que vai

"- Meu nome é Severino, não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
quem é santo de romaria, deram então de me chamar
Severino de Maria;"




Tânia Alves - Morte de Lavrador - Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto




Morte e Vida Severina retrata a trajetória de Severino, que deixa o sertão nordestino em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. Severino encontra no caminho outros nordestinos que, como ele, passam pelas privações impostas ao sertão.


A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor. Assim, ele retrata o enterro de um homem assassinado a mando de latifundiários.


Assiste a muitas mortes e, de tanto vagar, termina por descobrir que é justamente ela, a morte, a maior empregadora do sertão. É a ela que devem os empregos, do médico ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico.


Nota, ao vagar pela Zona da Mata, onde há muito verde, que a morte a ninguém poupa. Retrata, contudo, que a persistência da vida é a única a maneira de vencer a morte.


No poema, Severino pensa em suicídio jogando-se do Rio Capibaribe, mas é contido pelo carpinteiro José, que fala do nascimento do filho.


A renovação da vida é uma indicação clara ao nascimento de Jesus, também filho de um carpinteiro e alvo das expectativas para remissão dos pecados.






Morte e Vida Severina é um poema de construção dramática com exaltação à tradição pastoril. Ele foi adaptado para o teatro, a televisão, o cinema e transformado em desenho animado.


Por meio da obra, João Cabral de Melo Neto, que também era diplomata, foi consagrado como autor nacional e internacional.


Como diplomata, o autor trabalhou em Barcelona, Madri e Sevilha, cidades espanholas que permitiram clara influência sobre sua obra.


João Cabral de Melo Neto foi seduzido pelo realismo espanhol e confessou ter, daquela terra, o reforço ao seu anti idealismo, antiespiritualismo e materialismo.


Os instrumentos lhe permitiram escrever com mais clareza sobre o nordeste brasileiro em Morte e Vida Severina e outros poemas.


A obra é, acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à indiscutível capacidade de adaptação dos retirantes nordestinos.


"- Severino retirante,
deixe agora que eu lhe diga;
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vês, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
om sua presença viva."









Fontes:
Melo Neto, João Cabral - Morte e vida Severina
todamateria.com.br
youtube.com

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

 A República de Platão.



A palavra República vem do latim (res-publica) ou seja, coisa pública.

Escrita por volta de 380 a.C., 

A República é o segundo diálogo mais extenso de Platão (428-347 a.C.), composto por dez partes (dez livros) e aborda diversos temas como: política, educação, imortalidade da alma, etc. Entretanto, o tema principal e eixo condutor do diálogo é a justiça.

No texto, Sócrates (469-399 a.C.) é o personagem principal, narra em primeira pessoa e é responsável pelo desenvolvimento das ideias. Essa é a principal e mais complexa obra de Platão, onde estão presentes os principais fundamentos de sua filosofia.

A República (Politeia) idealizada pelo filósofo se refere a uma cidade ideal, chamada de Kallipolis (em grego, "cidade bela"). Nela, deveria ser adotado um novo tipo de aristocracia. Diferente da aristocracia tradicional, baseada em bens e na tradição, a proposta do filósofo é que esta possua como critério o conhecimento.

A Kallipolis estaria dividida em estratos sociais baseados no conhecimento e seria governada pelo "rei-filósofo". Os magistrados, responsáveis pelo governo da cidade, seriam aqueles que possuíssem uma aptidão natural para o conhecimento, e, somente após um longo período de formação, estariam preparados para ocupar os devidos cargos.




Esse sistema de governo é chamado de sofocracia, que vem das palavras gregas sophrós (sábio) e kratia (poder) e é representado como "o governo dos sábios".


A morte de Sócrates

Sócrates debate com outros personagens sobre o que é a justiça, concluindo que uma sociedade justa é aquela em que cada indivíduo cumpre sua função sem interferir nas dos outros.




É importante perceber que a morte de Sócrates foi muito importante para a continuidade da filosofia platônica. Motivou-o em parte à proposição de uma cidade ideal e sua crítica à democracia, presentes na obra.

Sócrates foi condenado à morte, acusado de heresia e corrupção da juventude ateniense. Foi julgado em um tribunal democrático no qual participaram os cidadãos de Atenas.

Para o filósofo, a democracia é injusta por permitir que uma pessoa ignorante tenha o mesmo valor que um sábio, dentro das deliberações políticas.

Deste modo, injustiças são cometidas. Para ele, o critério da maioria, base da democracia, não possui qualquer tipo de validade já que, em muitos casos, como o de Sócrates, a maioria pode estar errada e ser democraticamente injusta.

Para Platão propõe uma sociedade utópica, governada por filósofos-reis, onde a sociedade é dividida em três classes:

Governantes (filósofos-reis) : responsáveis por tomar decisões e governar com sabedoria.

Guardas (soldados) : encarregados da proteção e segurança da cidade.

Produtores (trabalhadores, artesãos e comerciantes) : que sustentam a sociedade economicamente.

Como vemos; Platão com toda sua sapiência ainda estratificava a sociedade entre os poderosos e os vassalos.

Alguns trabalhavam para sustentar outros (poucos) que comandavam de acordo com aquilo que achavam que era o correto.






A justiça é o principal conceito desenvolvido em A República. Todo o texto se desenvolve ao redor da tentativa de definição desse conceito por Sócrates e seus interlocutores.

Platão acredita que a justiça é a maior de todas as virtudes e compreende que, para que se possa praticá-la, é necessário defini-la. Os dois primeiros livros são dedicados ao tema e mostram a dificuldade de se definir um conceito tão importante e complexo como a justiça.

O primeiro dos dez livros da obra A República, que consiste em um diálogo socrático criado por Platão, tem início com a ida de Sócrates à casa de Céfalo.



Lá, Sócrates, inspirado pelos jogos olímpicos que estavam acontecendo, busca definir o que é a justiça. Sem sucesso, seus interlocutores tentam encontrar a melhor definição que dê conta do conceito.




Céfalo, um velho comerciante "no limiar da velhice", que vivia comodamente em Atenas, é o anfitrião do encontro. Ao ser questionado, afirma que a justiça é dizer a verdade e restituir o que é do outro.


Procris e Céfalo



Sócrates refuta essa definição. Céfalo se retira e deixa o debate com seu filho, Polemarco. Este, depois de algum debate, define a justiça como o ato de dar benefícios aos amigos e prejuízos aos inimigos.




Novamente, a definição é refutada por Sócrates, que afirma que o mal nunca será um ato de justiça. Portanto, o prejuízo não é um ato positivo como exige a justiça.


Após esse debate, Trasímaco, um dos sofistas, acusa Sócrates de não querer encontrar definição nenhuma e apenas jogar com as palavras e discordar sem apresentar soluções.


Trasímaco diz ter uma boa resposta e afirma que a justiça é o que é vantajoso para o mais forte. No caso, o governo.


Sócrates, novamente, discorda e mostra que todo o debate foi desvirtuado do caminho sobre a natureza da justiça. Ele diz que as discussões foram acerca do que é vantajoso: a justiça ou a injustiça e que permanece sem nada saber sobre o tema.


O Livro I de A República se encerra com essa afirmação.

Livro II


O segundo livro de A República tem início com a mesma tentativa de estabelecer a natureza da justiça. Um dos interlocutores, Glauco, faz uma apologia à injustiça, citando o Mito do Anel de Giges.


Com ele, Glauco mostra que as pessoas sofrem pelas injustiças praticadas contra elas, mas se beneficiam pela prática da injustiça e pela corrupção. Desse modo, todas as pessoas que têm oportunidade se corrompem e praticam injustiças em benefício próprio.


No Mito do Anel de Giges, um pastor de ovelhas em meio à tempestade encontra um cadáver que usa um anel. Ele toma para si esse anel e ao regressar à cidade, percebe que esse anel lhe dá o dom da invisibilidade.

O Mito do anel de Giges



Giges, o pastor, entra no palácio, seduz a rainha e conspira com ela a morte do rei. Após o assassinato do rei, ele assume seu lugar e governa tiranicamente.

O mito do Anel de Giges, de Platão, inspirou o autor J.R.R. Tolkien a criar o Um Anel, de O Senhor dos Anéis.


A partir do mito narrado, Glauco espera ter convencido Sócrates de que a justiça não é em si uma virtude, mas sim o parecer ser justo, já que todos são corruptíveis.

Entretanto, a refutação a esse argumento, desta vez, não parte de Sócrates, mas do irmão de Glauco, Adimanto. Ele afirma que se pode pensar de forma diferente da que pensa o irmão, que a justiça é uma virtude (não em si mesma, mas nos efeitos que ela gera), e que, por fim, os justos são recompensados, seja pelos deuses ou pelo reconhecimento dos que ficam após sua morte.

Sócrates tece elogios aos jovens, mas não acredita que haja resolução para o problema da justiça enquanto não abandonarem o pensamento sobre questões pontuais e pensarem de forma mais ampla, dando conta do todo da justiça para compreender o que ela é na alma.

Ambos concordam que a justiça é preferível às injustiças e, sendo assim, precisam de criar uma ordenação para que a justiça seja possível. O filósofo encaminha a conversa para a idealização de uma cidade perfeita.

Somente no Livro IV, Sócrates parece chegar a uma definição de justiça como sendo o equilíbrio e a harmonia entre as partes da cidade.


A Cidade Ideal de Platão

Nos próximos livros de A República, orientados pela ideia de justiça, os três (Sócrates, Glauco e Adimanto) buscam definir a cidade ideal.

Para isso, definem que a cidade deveria ser dividida em três partes, e que a perfeição estaria na integração harmônica entre elas.

A primeira classe de cidadãos, mais simples, seria dedicada às ações mais triviais relativas ao sustento da cidade, como o cultivo da terra, o artesanato e o comércio. Os responsáveis por essas atividades seriam aqueles que possuíssem na constituição de sua alma, o feno, o ferro e o bronze.

Os cidadãos de uma segunda classe, de acordo com Platão, seriam um pouco mais hábeis por possuírem prata na mistura de suas almas. Estes, chamados de guerreiros, protegeriam a cidade e constituiriam o exército e seus auxiliares na administração pública.

A terceira classe de cidadãos, mais nobres, estudaria por cinquenta anos, se dedicaria à razão e ao conhecimento, e constituiria a classe dos magistrados. A estes caberia a responsabilidade de governar a cidade, pois só eles teriam toda a sabedoria que a arte da política exige.

A justiça entendida como uma virtude só poderia ser praticada pelo detentor do conhecimento dedicado à razão. Este poderia controlar suas emoções e seus impulsos e governar a cidade de forma sempre justa.

Os cidadãos são divididos em grupos de acordo com sua atuação e o nível de conhecimento necessário para o desempenho de suas atividades. Somente a atuação em conformidade com a determinação natural da alma pode trazer o equilíbrio e a harmonia entre as partes.

A Atlântida é uma civilização fictícia descrita por Platão nos diálogos Timaeus e Crítias, do século IV a.C. A história de Atlântida está relacionada com a ideia de que a vida em um estado pode deteriorar-se, conforme examinado por Platão em A República.


Relação entre Atlântida e A República

A República é uma obra de Platão que examina o ciclo de deterioração da vida em um estado. A história de Atlântida é uma parábola que mostra como uma cidade pequena e justa vence uma cidade poderosa e agressiva.


Descrição de Atlântida

Platão descreve Atlântida como uma ilha rica e sofisticada que foi destruída por desastres naturais. A ilha teria sido localizada próximo do Estreito de Gibraltar e teria sido engolida pelo mar.


Para Platão, a parte racional da alma é a parte mais desenvolvida pelos filósofos, que a partir dela, controlam as demais.

Em outro texto, Platão faz uma alusão que afirma que a razão é como as rédeas responsáveis pelo controle de dois cavalos numa carruagem.

Por esse motivo, os filósofos deveriam ser os responsáveis pelo governo da cidade, por não estarem suscetíveis às emoções e aos desejos.

Platão afirma que a alma, assim como a cidade, obtém sua plenitude através da relação harmônica entre as partes que integram o todo.

No livro, Platão desenvolve a ideia de imortalidade da alma e sua relação com o conhecimento, dando continuidade à teoria da reminiscência socrática.

O filósofo afirma que a alma, por ser imortal e eterna, pertence ao mundo das ideias e lá pode apreender todas as ideias existentes e assim possui todo o conhecimento possível.

No momento da união da alma com o corpo, a alma se esqueceria desse conhecimento. Somente através da busca pelo conhecimento é que a alma é capaz de relembrar aquilo que já soube.

Deste modo, no Livro IV de A República, Platão busca conciliar as filosofias opostas de Heráclito (c.540-470 a.C.) e Parmênides (530-460 a.C).

Heráclito afirmou que o universo estava em um constante movimento de mudança (devir). Platão associa essa constante transformação ao mundo sensível, onde tudo sofre a ação do tempo e possui uma duração: nasce, cresce, morre e se renova.

De Parmênides, extraiu a ideia da permanência e associou-a ao seu mundo das ideias, onde tudo é eterno e imutável (permanente).

Essas são as bases do dualismo platônico e sua distinção entre o corpo (mundo sensível) e a alma (mundo das ideias).


A Educação na República

Na república, a educação ficaria ao encargo do Estado e as famílias não teriam participação sobre a criação. O Estado seria o responsável por educar os indivíduos e direcioná-los às atividades mais adequadas ao seu tipo de alma (bronze, prata ou ouro).

É nesse momento que Platão faz uma dura crítica à educação grega, sobretudo à poética. Para ele, a poesia desvirtuaria os indivíduos a partir da ideia de que os deuses seriam detentores de características humanas como: compaixão, predileção, inveja, rancor, etc.

Esses deuses, humanizados pela poética, serviriam de modelo de corrupção aos indivíduos. A humanização faria com que os deuses questionassem o seu papel dentro da sociedade e tivessem como objetivo uma transformação social.

Platão propõe que todos os indivíduos recebam uma educação geral baseada nos valores da cidade. Essa educação moldaria o caráter de cada um de seus alunos, conscientizando-os de seu papel dentro da sociedade.

Após um período de vinte anos, os primeiros indivíduos formados seriam aqueles que possuem feno, ferro e bronze na constituição de suas almas. Eles seriam os responsáveis pela fabricação de artefatos, a produção de alimentos e o comércio.

Os guerreiros receberiam mais dez anos de formação e após esse período, estariam aptos à defesa da cidade e a cargos auxiliares da administração pública. A prata misturada em suas almas determina sua aptidão para esse tipo de ação.

Com cinquenta anos de formação e diversas provas, os possuidores de almas com ouro, dedicados aos estudos e à razão, assumiriam os cargos de magistrados e seriam responsáveis pelo governo da cidade.

Platão mostra que somente os mais esclarecidos podem governar de maneira justa, baseados na razão.

No livro sete, encontramos o Mito da Caverna. Representa o mundo sensível, onde os indivíduos estão acorrentados e vêm a realidade somente através das sombras, ou seja a realidade que lhes é apresentada é aquela que lhes é permitida ver.

Como vemos Platão achava que o modelo ideal de governo era a aristocracia, ou um governo liderado por alguém que tivesse capacidade de governar com sabedoria e abnegação, conduzindo o governo para benefício de toda sociedade.

Essa forma um tanta ingênua e utópica, certamente não daria certo. Ele questionava a democracia, dizendo que  um processo para decidir o que fazer, não era muito positiva.


Até votar em um líder parecia arriscado para ele, pois os eleitores eram facilmente influenciados por características irrelevantes, como a aparência dos candidatos. Para ele, o povo não percebia que as qualificações são necessárias tanto para governar quanto para navegar.




Para nós, que estamos acostumados a ouvir elogios à democracia e a defendê-la, soa estranha a ideia da contagem de governos que, passando das formas superiores às inferiores, ela ocupa o terceiro lugar, depois da aristocracia e da oligarquia.


Não só isso: na República de Platão, Sócrates aponta que essa democracia, uma "forma agradável de anarquia", por sua vez, como qualquer outro regime, entraria em colapso devido às suas próprias contradições.


A partir da aristocracia nasceria a oligarquia e desta, a democracia — e esse "governo do povo" daria lugar a uma tirania.

Platão



Isso porque, assim como a busca cega por riqueza causa uma sede de igualdade, "o desejo insaciável de liberdade causa uma demanda por tirania".

Mesmo assim, com todas os seus defeitos a democracia supera quaisquer outros regimes de governo por uma razão: Sempre existe a chance de trocar um mau governante através das eleições livres e democráticas.


Fontes:

todamateria.com.br
baixelivros.com.br
bbc.com
wikipedia.org
google.com
suapesquisa.com

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