sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

 Banho







A humanidade melhora com o passar dos séculos, certo? Nem sempre. Prova disso é o que ocorreu com um de nossos hábitos mais comuns, o banho. Durante a Idade Média, os ocidentais abandonaram os sofisticados rituais de limpeza da Antiguidade e mergulharam numa profunda sujeira. Chegou-se a achar suficiente tomar um banho por ano. Foi preciso muito tempo – e alguns bons exemplos dos povos orientais e indígenas – para que voltássemos às nossas asseadas origens.

Acredita-se que todos os povos, desde tempos imemoriais, tenham praticado alguma forma de higiene pessoal. Os primeiros registros do ato de se banhar individualmente pertencem ao antigo Egito, por volta de 3000 a.C. Os egípcios realizavam rituais sagrados na água e tomavam ao menos três banhos por dia, dedicados a divindades como Thot, deus do conhecimento, e Bes, deus da fertilidade.





Na lendária civilização cretense, os banhos faziam parte dos intervalos que ordenavam a realização de banquetes. Sendo um dos povos que participaram da formação da civilização grega, os cretenses tiveram essa tradição mantida pelos povos que habitaram a Hélade. Para os gregos, o contato com a água integrava o processo de educação de seus jovens. De acordo com as várias representações da época, o indivíduo bem ensinado tanto dominava a leitura, assim como praticava a natação.

No decorrer da Antiguidade, os romanos, visivelmente influenciados pela cultura grega, ampliaram a recorrência do hábito realizando a construção das famosas termas. Uma terma consistia em um edifício repleto de vários salões que contavam com vestiários, saunas e diversas piscinas. Ligeiramente semelhantes aos resorts do mundo contemporâneo, algumas dessas construções romanas também contavam com bibliotecas, jardins e restaurantes.

Se no Império Romano as pessoas não tinham o menor pudor de se banharem nesses locais públicos, na Idade Média a coisa mudou bastante de figura.

A Igreja Católica teve uma grande interferência nessa transformação brusca de costumes, visto que o papa Gregório I, ao declarar que o contato com o corpo era uma prática pecaminosa, se tornara um dos mais influentes opositores ao banho.

O papa Gregório I foi um dos mais importantes precursores do repúdio ao banho ao dizer que o contato com o corpo era via mais próxima do pecado. Dessa forma, o tomar banho se transformou em uma atividade anual e acontecia em um simples barril de água. Fora disso, os asseios diários eram feitos pelo uso de panos úmidos.





A limpeza teve um brutal revés em 1348. Causada por pulgas, a peste bubônica matou até um em cada três europeus. Ao notar que muitos judeus não pegavam a doença, a Inquisição chegou a julgá-los e executá-los, acusados de bruxaria. Mas eles, na verdade, não agiam de má-fé – muito pelo contrário. O que fazia os judeus serem menos suscetíveis a doenças era uma recomendação religiosa que seguiam: lavar as mãos antes das refeições e tomar banho ao menos uma vez por semana.

A partir daí, os médicos passaram a afirmar que a água dilatava os poros da pele, por onde a saúde escaparia e o mal penetraria, em formas como a friagem e o miasma - o ar ruim que acreditavam ser a causa da peste. Todo mundo acreditou nisso e essa foi a senha para o retorno da porcalhice. E, enquanto nações como Portugal e Espanha descobriam, na América, populações que amavam tomar banho, os europeus voltavam para o mundo da sujeira.

No Brasil, muitos povos indígenas já tinham o hábito de tomar banho diariamente. Esse é um hábito presente até hoje no Brasil, e é considerado uma das heranças culturais dos povos indígenas.

A popularização do banho só aconteceu de fato no Ocidente a partir da década de 1930. Nessa época, a lavagem do corpo era realizada aos sábados, mesmo dia em que as peças íntimas das crianças eram trocadas. Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de reconstrução de várias casas permitiu que os chuveiros fossem disseminados por toda a Europa. Atualmente, nosso banho deixou de ser um ato público, mas ainda é premissa fundamental para que os outros tenham uma boa impressão de nós.



Fontes:

aventurasnahistoria.com.br
historiadomundo.com.br
google.com
blog.brkambiental.com.br
wikipedia.org

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