sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Construção - Chico Buarque de Holanda

Construção



Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo


E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado


Mais uma obra de arte de Chico Buarque, a música Construção foi composta em 1971 e lançada no LP do mesmo nome.


Chico Buarque




A canção é composta em versos alexandrinos, isto é, com doze sílabas poéticas, com cisão na sexta sílaba, todos os versos terminam em proparoxítonas, onde a sílaba tônica é a antepenúltima. Segundo as regras gramaticais todas as proparoxítonas são acentuadas graficamente.

São quarenta e um versos que contam a história de um trabalhador da construção civil.

O desenvolvimento da letra procura mostrar a rotina desse trabalhador, que antes de ir trabalhar se despede da mulher e dos filhos, em seguida mostra o operário construindo o prédio, a pausa para ao almoço, o desiquilíbrio e a queda se espatifando no chão. 

No começo se sentia um príncipe, logo depois da queda não passa de um bêbado atrapalhando o trânsito.

Mostra, portanto a importância do trabalhador em construir um edifício, gerando progresso para a sociedade e para os que se beneficiarão dele. Enquanto descansa, depois do almoço, ele se sente importante pelo trabalho que executa, logo após, percebe que apesar da importância do trabalho, fora da obra ele não é reconhecido pela sociedade.

No asfalto onde ele jaz morto, a música mostra que ele é apenas mais um trabalhador, que agora atrapalha o sábado.

O disco abre com a doce e perigosa ironia ao falar dos militares no poder — “Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir/ A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir/ Por me deixar respirar, por me deixar existir/ Deus lhe pague” —,





A orquestração da música feita pelo maestro Rogério  Duprat, dá um tom que vai do lirismo à tragédia, com sons que imitam buzinas e suspense.


RogérioDuprat


Com poderosos metais e uma orquestra sinfônica que sublinha toda a melodia, passando das cordas suaves do início, dialogando com a voz delicada e frágil de Chico, entremeada pela percussão que vai enredando o ouvinte, com a letra forte carregada de imagens poderosas, até desembocar no ápice, com intervenções fortes e estridentes depois que o herói despenca do andaime e morre na contramão — “atrapalhando o tráfego”.


Neste momento, a canção ganha um tom catártico no arranjo de Duprat e explode, em um caos sonoro e labiríntico. Chico é um gênio e é esta faixa que mostra tudo isso. O arranjo retoma “Deus lhe pague” e deixa o ouvinte atordoado.



Fontes:

wikipedia.org
google.com
youtube.com
culturagenial.com
vermelho.og.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vamos falar hoje de objeto direto e objeto indireto. O objeto direto e o indireto são termos integrantes da oração que completam o se...