terça-feira, 24 de setembro de 2024



Ortoépia ou Ortoepia trata da pronúncia correta das palavras. Cotidianamente, e de forma natural, pronunciamos palavras de forma incorreta, que fogem à norma culta, de modo que essa parte da fonologia trata da pronúncia de acordo com a gramática normativa.

Exemplos:

Pronúncia Correta        Pronúncia Incorreta

abecedário                                        abecedalho
abóbada                                             abóboda
açougue                                             açogue
aeroporto                                          areoporto
aterrissagem                                    aterrisagem
beneficente                                      beneficiente
cabeçalho                                         cabeçário
empecilho                                        impecilho
estupro                                             estrupo
frouxo                                               froxo
hilaridade                                        hilariedade
impingem                                        empigem
lagarto                                              largato
manteiga                                         mantega
mendigo                                          mendingo
meritíssimo                                     meretíssimo
meteorologia                                   metereologia
mortadela                                        mortandela
prazeroso                                        prazeiroso
propriedade                                    propiedade



Ortoépia e Prosódia

Prosódia trata do emprego correto da acentuação tônica.

Assim, Ortoépia e Prosódia tratam da pronúncia das palavras, todavia, a prosódia é o estudo da pronúncia das palavras mediante a posição da sílaba tônica. Seus erros são chamados de silabada.

Exemplos:

  1. condor
  2. Gibraltar
  3. nobel
  4. sutil
  5. avaro
  6. ibero
  7. filantropo
  8. rubrica
  9. ágape
  10. arquétipo
  11. bígamo
  12. protótipo

As palavras de 1 a 4 são oxítonas (condor, Gibraltar, nobel e sutil). Ao pronunciá-las é frequente que a acentuação tônica recaía nas seguintes sílabas: condor, Gibraltar, nobel e sutil.

As palavras de 5 a 8 são paroxítonas (avaro, ibero, filantropo e rubrica). Ao pronunciá-las é frequente que a acentuação tônica recaía nas seguintes sílabas: avaro, ibero, filantropo e rubrica.

As palavras de 9 a 12 são proparoxítonas (ágape, arquétipo, bígamo, protótipo). Ao pronunciá-las é frequente que a acentuação tônica recaía nas seguintes sílabas: ágape, arquétipo, bígamo, protótipo.



Fontes:

todamateria,.com.br
portugues.com.br

segunda-feira, 23 de setembro de 2024




Colônia Cecília - Paraná





Colônia Cecília foi uma comuna experimental baseada em premissas anarquistas. A colônia foi fundada em 1890, no município de Palmeira, no estado do Paraná,  por um grupo de libertários mobilizados pelo escritor e agrônomo italiano Giovanni Rossi (1859-1943).


Giovanni Rossi



A fundação da Colônia Cecília foi a primeira tentativa efetiva de implantação do ideário anarquista no Brasil (1889). Rossi, ideólogo e escritor anarquista, adepto da " acracia ", sistema político que não admite nenhuma forma de governo que  foi instigado pelo músico brasileiro Carlos Gomes a procurar D.Pedro II com o propósito de instaurar uma comunidade capaz de propulsionar um "novo tempo", uma utopia baseada no trabalho, na vida e no amor libertário.

Interessado na colonização do Brasil, D. Pedro II atendeu ao pedido e escreveu a Rossi oferecendo as terras a serem ocupadas pelos italianos (300 alqueires na região meridional brasileira). A doação, de fato, não aconteceu: logo depois da oferta pelo imperador, foi instaurada a república brasileira, que não reconheceu concessões de terras outorgadas a estrangeiros pelo império deposto. Rossi não desistiu. Comprou as terras por meio da "Inspetoria de Terras e Colonização".

O Brasil recebeu uma grande quantidade de imigrantes, principalmente italianos, no final do século XIX. Se na Itália a condição de vida no campo fundamentou a emigração, no Brasil, tanto nas fazendas de café quanto nos núcleos coloniais, a realidade não era muito diferente, estando distante de um processo de caráter inovador: o imigrante se inseria no Brasil como proletário em potencial. Foi nesse meio social que o anarquismo se propagou no Brasil.




A bordo do navio Città di Roma, Rossi e seus companheiros embarcaram no porto de Gênova em 20 de fevereiro de 1890. Aportaram no Rio de Janeiro em 18 de março. Ali se abrigaram em uma hospedaria de imigrantes.


"Nós pretendemos constituir aqui uma colônia anarquista, que possa dar à propaganda uma demonstração prática de que nossas ideias são justas e realizáveis, e à agitação revolucionária na Europa auxílios financeiros", escreveu ele, em carta enviada ao jornal anarquista francês La Révolte.

A vida na Colônia

Os primeiros colonos chegaram em 1890 e construíram um barracão coletivo que instalava, provisoriamente, as famílias para, em seguida, cada uma tratar de construir a sua própria casa. Nessa época, o contingente populacional na Colônia Cecília era de quase trezentas pessoas, incluindo o próprio Rossi. Ao final de 1891, a explosão populacional superava a estrutura disponível: 20 casas de madeira e um barracão comunitário. A lavoura e a pecuária não produziam o suficiente para a subsistência dos colonos, grande parte de origem operária e sem conhecimentos agrícolas para implementar uma produção em maior escala.

O primeiro obstáculo enfrentado pelo núcleo anarquista foi o modo de organizar o trabalho. Aos artesãos, foram designadas tarefas semelhantes às que já realizavam. Mas quanto aos lavradores, Giovanni Rossi já pressentira que encontrariam dificuldades em razão da diferença entre o solo brasileiro e o italiano.

Ao concluírem a construção das habitações coletivas e individuais e dividirem racionalmente o trabalho entre os 150 colonos, eles se depararam com um fato real: o milho, que era ideal para aquela região, não nasce do dia para a noite. Com o dinheiro que trouxeram, conseguiram subsistir, comprar mantimentos, instrumentos para a lavoura e sementes. Contudo, viram-se obrigados a procurar por outras atividades para delas tirar seu sustento até que pudessem viver tão somente de sua lavoura. Alguns se ocupavam da plantação enquanto outros trabalhavam em obras do governo.

Os colonos plantaram mais de oitenta alqueires de terra - em área que lhes fora cedida pelo imperador Pedro II, pouco antes da proclamação da República - e construíram mais de dez quilômetros de estrada, numa época na qual inexistiam máquinas, tratores ou guindastes de transporte de terras.

Foram edificados o barracão coletivo, vinte barracões individuais, celeiros, a casa da escola, moinho de fubá, tanque de peixes, o pavilhão coletivo - que também abrigava o consultório médico - viveiro de mudas, poços, valos, pomar de peras, estábulos, além da grande lavoura de milho.

Nos quatro anos de existência da colônia (1890-1894), sua população chegou a atingir cerca de 250 pessoas. Realizaram-se duas relações do tipo poligâmico. O próprio Rossi se propôs como exemplo concreto do novo estilo de vida, compartilhando com outro homem a sua ligação amorosa com uma moça da colônia.

Em 1892, aconteceu o primeiro revés na colônia: sete famílias decidiram pelo regresso à Itália - a primeira desagregação que, seguida de outras, reduziu a Colônia a apenas vinte pessoas até o final desse mesmo ano. Os colonos iniciaram a migração para Curitiba: eram médicos, engenheiros, professores, intelectuais e operários, além de camponeses na Itália. Esse grupo fundou na capital paranaense a Sociedade Giuseppe Garibaldi.

No ano seguinte (1892), a colônia recebe novo alento com a chegada de novos colonos. Nesse período (apogeu de sua breve história), teve início a vitivinicultura e a fabricação de sapatos e barricas. Ao final desse ano, a colônia contava com sessenta e quatro pessoas, dois poços artesianos e uma estrada de acesso. Foi também nesse período que os sapateiros oriundos da colônia exerceram papel de destaque no movimento operário do estado.

O fim da colônia

O experimento da Colônia Cecília terminou por vários motivos. O principal foi a pobreza material, chegando mesmo a condições de miséria. Em segundo lugar, a hostilidade da comunidade polonesa vizinha, fortemente católica. O próprio clero e as autoridades locais promoveram o ostracismo dos anarquistas. Enfim, havia as doenças, ligadas à desnutrição, à falta de condições de saneamento adequadas, além dos problemas internos ligados às dificuldades de adaptação ao estilo de convivência anarquista, particularmente no tocante ao amor livre, que, embora teoricamente fosse aprovado por todos, na prática, despertava insegurança.

A Colônia Cecília, desde o final de 1893, entretanto, dava sinais de esgotamento: havia grande demanda por mão de obra nas cidades vizinhas, especialmente Palmeira, Porto Amazonas, Ponta Grossa, além da capital. Mesmo assim, outras famílias continuaram chegando à colônia, atraídas pela propaganda difundida pela imprensa socialista europeia que, entretanto, não foi suficiente para a sua manutenção. A Colônia Cecília se extinguiu em 1893.

Representação na cultura popular

As histórias vivenciadas na Colônia Cecília foram representadas em diversos segmentos artísticos, como na literatura e na dramaturgia da televisão brasileira. Na literatura, destaca-se a obra de Zélia Gattai, Anarquistas graças a Deus (1979), onde trata de histórias envolvendo a família que chegou a integrar a colônia. Diversas outras obras também contam a história da Colônia, como Colônia Cecília - Romance de uma Experiência Anarquista (1980), de Afonso Schmidt, e obras mais recentes como "Colônia Cecília", de autoria de Arnoldo Monteiro Bach (2011), e "A Saga da Colônia Cecília" (2013), de autoria de Darvino Agottani.


Ney Latorraca e Débora Duarte
Anarquistas graças a Deus



A obra de Gattai inspirou a minissérie brasileira produzida pela Rede Globo que levou o mesmo nome, Anarquistas graças a Deus (1984), escrita por Water George Durst e dirigida por Walter Avancini, que também representou em seu contexto a Colônia Cecília devido ao movimento anarquista no Brasil. A Rede Bandeirantes exibiu pela primeira vez em 1989 a minissérie Colônia Cecília, escrita por Patricia Melo e Carlos Nascimbeni, em que o drama foi protagonizado por Giovanni Rossi, interpretado por Paulo Betti. A RPC exibiu em 2012 a minissérie de ficção de época Colônia Cecília – Uma História de Amor e Utopia, produzida pela GP7 Cinema.

Memorial anarquista


No dia 31 de março de 2016, foi inaugurado o Memorial Anarquista da Colônia Cecília, na Praça Memorial da Colônia Cecília no Brasil, na localidade de Santa Bárbara, área rural do município de Palmeira. O memorial foi construído com recursos federais e conta com nove totens, uma réplica de casa dos imigrantes e um busto do idealizador da experiência, Giovanni Rossi. O espaço (terreno) onde foi construído o memorial é uma doação de um dos descendentes de imigrantes italianos que residiram na localidade, Evaldo Agottani.

O memorial foi idealizado pelo arquiteto Murilo Malucelli Klas e os oito totens com mosaicos foram criados pelo artista plástico Marcos Coga.



Fontes:

wikipedia.org
google.com
bbc.com
gazetadepalmeira.com.br
memorialglobo.globo.com

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

 ''Vamos falar hoje da obra do escritor Ernest Hemingway, "To have and have not", em português traduzido como ''Uma aventura na Martinica''.





'' Sabem como é de manhã bem cedo em Havana, com bêbados ainda dormindo encostados às paredes dos prédios; antes mesmo de chegarem os carros de gelo para entregar sua mercadoria aos bares ? '' (Cap. I p 11)


O livro narra a história , do capitão de um barco de pesca,  Harry Morgan, que ganha a vida levando turistas para pescar no mar do Caribe, entre Cuba e a costa de Key West. às vezes Harry se vê levado a fazer outros tipos de serviço, como contrabando de bebida e transporte de cubanos que querem ir para os EUA.




Harry é procurado por membros da resistência francesa, logo após a queda de Paris em 1940, mas nega-se a ajudar por medo de perder a embarcação. Mais tarde, no entanto, ele ajuda, visto a grande soma em dinheiro que lhe é oferecida.





Dizem que a escrita de Hemingway foi influenciada por suas experiências durante a Guerra Civil Espanhola, daí o motivo de haver uma mensagem muito forte em To Have and Have Not sobre o desequilíbrio da sociedade. Isso se reflete no título do livro, onde se refere àqueles que "Têm" e àqueles que "Não Têm" . O protagonista principal, Harry Morgan, é cínico sobre todos os aspectos da vida. Ele está com raiva o tempo todo, com essa desilusão se espalhando em sua rotina diária. Ele aluga seu barco para expedições de pesca e, às vezes, o dinheiro que ganha é suficiente para colocar comida na mesa para sua esposa e filhos, mas outras vezes a sorte passa por ele e Harry recorre a atividades do mercado negro para sobreviver. Lidar com um comércio ilegal traz grandes riscos e, em Ter e Não Ter , Harry Morgan se envolve com algumas pessoas muito desagradáveis.

Hemingway descreve as dificuldades da vida dos moradores locais de Key West e o sentimento de vazio que se apega a eles enquanto tentam sobreviver. Grande parte do romance é ocupada com descrições de grandes quantidades de consumo de álcool e violência, vinculadas à negligência e pobreza dos habitantes. Isto é, claro, muito diferente dos turistas, os ricos que chegam, que parecem ter tudo, mas têm muitos problemas próprios.

Ter e Não Ter é um livro muito desafiador e difícil de analisar de muitas maneiras. Hoje, Harry Morgan seria chamado de racista, misógino e valentão. Há uso abundante de certas palavras, espalhadas por todo o livro, que seriam inaceitáveis ​​em qualquer trabalho escrito hoje. Mas é preciso olhar para isso por uma lente diferente, a de 1937, quando a sociedade era um lugar muito diferente de fato. Ter e Não Ter é uma leitura sombria ambientada na Depressão. O diálogo é desconexo, rápido e abrasivo. Todos os personagens são problemáticos. O cenário é escuro e desolado. Hemingway tinha uma consciência social ao retornar da Espanha e seria de se perguntar como este livro teria ficado se ele nunca tivesse ido em primeiro lugar.

Hemingway morou em Key West e no final da vida em Cuba.

Ter e Não Ter é sem dúvida um livro polarizador.  Um conto trágico, Ter e Não Ter , é uma leitura fragmentada e intransigente que desafiará e intrigará, ao mesmo tempo que frustrará e confundirá muitos leitores.





O livro foi levado ao cinema com Humphrey Bogart e Lauren  Bacall de 1944, com direção de Howard Hawks. Uma cena famosa do filme se passa quando Marie Browning (Bacall) beija Harry Morgan( Bogart), que lhe pergunta qual o motivo daquilo. Ela responde que deu vontade e se ele quiser chama-la basta assobiar. Ela sai e ele dá dois assobios para chama-la, dando origem ao famoso - fiu-fiu.





O livro mostra como os ricos não são solidários uns com os outros, os intelectuais  cultivam rapidamente a sua má consciência e os pobres sentem-se unidos uns com os outros por razões sentimentais.


Fontes:

wikipedia.org
google.com
swirlandthread-com.translate.goog
dalenogare.com
bbc.com/portuguese
50anosdefilmes.com.br
Hemingway, Ernest - Uma aventura na Martinica - Liv.Exposição do Livro - trad. Aydano Arruda

terça-feira, 17 de setembro de 2024

 Sílabas tônicas:


A diferença entre oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas está na posição da sílaba tônica:


Oxítonas:

A sílaba tônica está na última sílaba. Exemplos: jabuti, anéis, inconstitucional. As oxítonas são acentuadas quando terminam em -á, -ás, -é, -és, -ó, -ós, -ém, -éns, -ói, óis, -éu, -éus, -éis.


Paroxítonas:

A sílaba tônica está na penúltima sílaba. Exemplos: rosa, pistache, especificidade. A maioria das paroxítonas não são acentuadas, mas as que terminam em R, X, N, L, PS, Ã(S), ÃO(S), I, IS, EI(S), US, OM, ONS, UM, UNS são acentuadas.


Proparoxítonas:

A sílaba tônica está na antepenúltima sílaba. Exemplos: ética, tarântula, misericórdia.


Fontes:

todamateria.com.br

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Construção - Chico Buarque de Holanda

Construção



Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo


E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado


Mais uma obra de arte de Chico Buarque, a música Construção foi composta em 1971 e lançada no LP do mesmo nome.


Chico Buarque




A canção é composta em versos alexandrinos, isto é, com doze sílabas poéticas, com cisão na sexta sílaba, todos os versos terminam em proparoxítonas, onde a sílaba tônica é a antepenúltima. Segundo as regras gramaticais todas as proparoxítonas são acentuadas graficamente.

São quarenta e um versos que contam a história de um trabalhador da construção civil.

O desenvolvimento da letra procura mostrar a rotina desse trabalhador, que antes de ir trabalhar se despede da mulher e dos filhos, em seguida mostra o operário construindo o prédio, a pausa para ao almoço, o desiquilíbrio e a queda se espatifando no chão. 

No começo se sentia um príncipe, logo depois da queda não passa de um bêbado atrapalhando o trânsito.

Mostra, portanto a importância do trabalhador em construir um edifício, gerando progresso para a sociedade e para os que se beneficiarão dele. Enquanto descansa, depois do almoço, ele se sente importante pelo trabalho que executa, logo após, percebe que apesar da importância do trabalho, fora da obra ele não é reconhecido pela sociedade.

No asfalto onde ele jaz morto, a música mostra que ele é apenas mais um trabalhador, que agora atrapalha o sábado.

O disco abre com a doce e perigosa ironia ao falar dos militares no poder — “Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir/ A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir/ Por me deixar respirar, por me deixar existir/ Deus lhe pague” —,





A orquestração da música feita pelo maestro Rogério  Duprat, dá um tom que vai do lirismo à tragédia, com sons que imitam buzinas e suspense.


RogérioDuprat


Com poderosos metais e uma orquestra sinfônica que sublinha toda a melodia, passando das cordas suaves do início, dialogando com a voz delicada e frágil de Chico, entremeada pela percussão que vai enredando o ouvinte, com a letra forte carregada de imagens poderosas, até desembocar no ápice, com intervenções fortes e estridentes depois que o herói despenca do andaime e morre na contramão — “atrapalhando o tráfego”.


Neste momento, a canção ganha um tom catártico no arranjo de Duprat e explode, em um caos sonoro e labiríntico. Chico é um gênio e é esta faixa que mostra tudo isso. O arranjo retoma “Deus lhe pague” e deixa o ouvinte atordoado.



Fontes:

wikipedia.org
google.com
youtube.com
culturagenial.com
vermelho.og.br


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

A Noite das Garrafadas







A "Noite das Garrafadas" representou uma revolta ocorrida em 1831 no Rio de Janeiro, durante o período do Brasil Império (1822-1889). De um lado estava o grupo que apoiava Dom Pedro I, em grande maioria portugueses, e de outros, os liberais brasileiros insatisfeitos com seu governo, os quais exigiam maior liberdade política, administrativa e de imprensa.

Libero Badaró



Além de fatores como o autoritarismo do monarca, a censura, o fechamento da Assembleia Nacional Constituinte, a Constituição em 1824 e a influência político-administrativa lusitana no país, o estopim para o desenvolvimento do confronto aconteceu no momento em que o jornalista liberal italiano Líbero Badaró foi misteriosamente assassinado, na cidade de São Paulo, em 1830.



No dia 20 de novembro de 1830, o jornalista Líbero Badaró,  que denunciava o autoritarismo do imperador D.Pedro I, é assassinado - e supõe-se que foi a mando do próprio governante. Os assassinos eram aliados políticos do imperador e esse episódio desencadeou uma onda de manifestações contrárias ao seu governo.


Ouro Preto - Minas Gerais


Em março de 1831, D. Pedro I viaja para Minas Gerais, buscando conter agitações federalistas locais. Nova onda de boatos espalhou a notícia de que ele preparava um golpe absolutista, planejando dissolver o Congresso. Por isso, no dia 11 de março ele retorna ao Rio de Janeiro,  onde volta a encontrar oposição aberta nas ruas da cidade. O conflito culminou na noite do dia 13, quando os comerciantes portugueses, partidários de d. Pedro, prepararam uma grande festa para celebrar o retorno, com fogueiras, iluminações, girândolas e lençóis com as cores nacionais. Já os liberais brasileiros entenderam os festejos como uma ofensa à dignidade nacional. E assim se iniciava o conflito conhecido como Noite das Garrafadas — por conta dos objetos atirados. Este confronto se sucedeu de tensões já altas entre os dois grupos. O Rio de Janeiro passava por uma onda oposicionista e xenofóbica, que atacava em especial os portugueses. O que havia começado como simples insultos pelos dois grupos, os nativistas e os portugueses, culminou na agressão física. A briga culminou com a expulsão dos brasileiros da Rua Quitanda, devido a garrafas jogadas pelos portugueses do alto de suas casas. O conflito durou três dias até que no dia 15, forças policiais chegaram ao local. Entre os presos da briga, se encontravam oficias jovens brasileiros, agravando mais ainda a tensão entre os grupos. Estes oficiais brasileiros seriam libertos por Francisco de Lima e Silva, que fora recolocado no posto de Comandante das Armas da Corte. Esse episódio teve importância primordial na crise política que resultaria na abdicação de D. Pedro I em 7 de abril de 1831.


D.Pedro I



A "Noite das Garrafadas" é um dos exemplos de muitas revoltas que aconteceram durante o primeiro reinado, por causa das instabilidades do governo de D. Pedro I.



Fontes:  

brasilescola.uol.com.br
wikipedia.org
google.com
todamateria.com.br

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

 Poema "O corvo" - tradução de Machado de Assis


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Em certo dia, à hora, à hora

Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."




Once upon a midnight dreary , while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded , nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
"Tis some visitor", I muttered, "tapping at my chamber door-

- Only this and nothing more."




Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranquilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."

“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!


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Em 29 de Janeiro, no ano de 1845, era publicado o famoso poema O Corvo (The Raven), do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. A obra apareceu pela primeira vez nas páginas do jornal New York Evening Mirror. O poema traz a figura do misterioso corvo que pousa no busto de Atena e representa o caráter implacável da morte e seu impacto sobre o personagem, que lamenta e sofre profundamente a perda de sua amada Leonora. O que torna o poema diferenciado, principalmente, é a sua musicalidade, a atmosfera sobrenatural e seus jogos fonéticos, além do talento de Poe, um dos maiores nomes do romantismo e da literatura norte-americana.


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Edgar Allan Poe



O escritor nasceu em Boston - EUA, em 1809, filho de atores de teatro. Tornou-se órfão em tenra idade. Foi criado por um comerciante, John Allan, no sulista Estado da Virgínia. Ainda criança viveu no Reino Unido por um período de 5 anos. Durante uma juventude conturbada, tendo sido retirado da Universidade de Virgínia por seu tutor devido a dívidas de jogo, e expulso da academia militar, publicou seus primeiros trabalhos em Boston Tamerlão e outros poemas (1827), Baltimore Al Araaf (1829) e Nova York Poemas (1831). De volta à Virgínia teve curta carreira como editor e jornalista, tendo sido demitido por alcoolismo. Continuou por toda a vida mudando de cidades, sem se estabilizar, mas sempre conquistando reconhecimento como poeta, escritor e crítico. Com a publicação de The Raven (O corvo )(1845), conquistou imediata fama em todo o país.

Poe tinha uma certa inclinação para morbidez, seus interesses eram em pessoas mortas, enterradas vivas, dando um sentido gótico às suas obras.

A tradução do poema para o português não foi nada fácil diante do desafio de preservar a conhecida musicalidade do original em inglês. As versões mais conhecidas para o idioma são as de Machado de Assis e Fernando Pessoa.

Trouxe a tradução de Machado que incluiu beleza ao já belo texto de Edgar Allan Poe. Postei também a primeira estrofe no original para que se tenha uma ideia da obra e da dificuldade da tradução. Quem tiver interesse em ler o poema no original deixei o endereço do sítio abaixo: poetryfoundation.org/poems/48860/the-raven




Fontes:
seuhistory.com
google.com
pt.wikisource.org
casadacultura.org
wikipedia.org

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